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Epifanias

Foto do escritor: Pedim GuimarãesPedim Guimarães

Atualizado: 17 de jul. de 2023


Estava caminhando pelo shopping após uma agradável reunião de amigos pelo natalício de um dos confrades, tudo passou como deve ser um encontro desses: algo que se tornará uma lembrança cheia de ternura no futuro. Rimos bastante, por sinal, ainda bem que o barulho do ambiente em que estávamos proporciona uma poluição suficiente para não se ouvir o que se conversa na mesa vizinha. Por que escrevi ainda bem? Porque falei tanta besteira que devo ter ofendido algumas pessoas.



Continuo o percurso, penso no quanto aquilo mudou ao longo dos anos, um local que era o destino certo de todas as famílias da cidade nos finais de semana, tornou-se um espaço gigantesco, que ainda reúne muitas pessoas, mas a cidade está tão grande, há vários shoppings, praticamente um por macrorregião, abastecidos com fast food, lojas conceituadas de departamento, lojas voltadas para um público mais abastados, lojas de roupas para crianças, lojas de brinquedos, lojas de dispositivos eletrônicos, caixa eletrônico, até, pasmem, clínicas! E digo mais, que funcionam durante o período de abertura do shopping!



Ao me aproximar do terminal de pagamento do ticket de estacionamento, percebo um senhor parado em frente a uma loja de produtos de informática, ah, outro estabelecimento que eu deveria ter citado antes, né? Bom, o homem estava de frente a vitrine, longe do olhar atento dos vendedores, ele contemplava um monitor que passava cenas de um jogo, possivelmente um desses simuladores de combate de tiro de primeira pessoa, nunca fui muito fã desse gênero, me diverti bastante com um Playstation 3 – Boderlands – um misto de RPG com FPS, desculpem pelos termos técnicos, vamos voltar ao ponto principal.


Os olhos do senhor brilhavam perante a apresentação do game, parecia num êxtase, deslumbrado com a cena, não sei se pela qualidade dos gráficos, pelo estilo dos personagens, ou meramente pela tecnologia em si, do quanto ela avançou desde que ele era criança, talvez não tivesse acesso a tantos recursos tecnológicos, afinal quando eu era pequeno uma linha telefônica era considerada um patrimônio deveras estimado, tanto que constava no rol de bens de espólio do finado, era caríssimo ter telefone! Imaginem na época dele, a comunicação era por cartas, sim, manuscritas, até certo tempo eu sabia que algumas pessoas trocavam cartas, às vezes por anos, como uma troca de confidências, tal como fazemos hoje no WhatsApp. Ver filmes? Não havia essa facilidade de streaming, as pessoas iam mais ao cinema, nem sempre, diga-se, o mais comum era esperar passar na televisão, não raro os melhores títulos passavam de madrugada, assisti muitos nesse horário devido a insônia, cheguei a ver os 12 Condenados, excelente por sinal. Decerto na época dele as televisões ainda eram em preto e branco. E que aparelhos pesados, aliás, pesados não, além!

Durante uns segundos, não analisei se passou de um minuto, ou mais do que isso, apenas fiquei parado e observei a admiração, como ali de frente para estivesse uma grande obra de arte, emoção que um fã de pintura teria ao se deparar com uma feita por Monet, Degas, Picasso... dentre outros. Talvez ele estivesse numa epifania de contemplar a magnitude divina, que, além de fornecer um planeta para morarmos, possibilitou ao ser humano ser dotado de inteligência para poder criar, não somente arte, mas instrumentos para tornar nossas sofridas vidas com menos penitências, vide o grande avanço que demos no último século, pois muitas vidas se perpetuam graças a ciência, uma forma de acessar as leis materiais do mundo arquitetado por uma mente suprema, uma força, uma entidade, uma realidade, algo. O homem experiente na jornada da vida ficava ali maravilhado. Peguei o celular, fui ver a hora, eita, tenho que correr, prometi ir buscar meus agregados o mais rápido possível. Que maravilha a modernidade, posso pagar num terminal eletrônico sem ter que falar com pessoa, nada contra, mas geralmente não ando muito afim de interação humana, tenho que melhorar, sei disso. Cartão deu erro, porra, nem tudo são flores, tudo é falível, faz parte, sigamos com momentos de contemplação quando for propício e saibamos que no percurso imprevistos podem acontecer.



Valeu valeu

Até a próxima

Paz



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