
Sim, gosto de Motorhead. Fui a dois shows, um aqui em Fortaleza (15/04/2009, pesquei aqui na internet hehe), outro no Rock in Rio (2011. Foi mágico ver um dos melhores frontmans do Metal bem perto. O daqui foi melhor, não só pela proximidade do palco, teve mais energia, tocaram mais clássicos. Esse dia foi massa, esses dias aliás.

Lemmy Kilmister compôs letras marcantes, como Ace of Spades, Killed by Death, Overkill, Orgasmatron, One Track Mind... Também há várias com cunho emocional forte como Don't Let Daddy Kiss Me (Não deixe que papai me beije), que fala disso aí que você pensou; No Voices In The Sky (Nenhuma Voz No Céu), reflexiva; God Was Never On Your Side (Deus Nunca Esteve Ao Seu Lado), outra que proporciona vários pensamentos.
Lemmy foi roadie de Jimi Hendrix, teve um filho com uma groupie que perdeu a virgindade com John Lennon. Lemmy era fã de Beatles, de Little Richards e de Elvis Presley. Lemmy é uma lenda. Lemmy é um mito. Lemmy é "true". Lemmy é Lemmy. E haja cutruviagem!

Filmaram um documentário, “Lemmy: 49% Motherf**ker. 51% Son of a Bitch” (2010) dirigido por por Greg Olliver e Wes Orshoski. Aí podemos ver o homem por trás do mito. "Não conte para ninguém, mas o Lemmy é um cara muito legal". A frase, dita pelo baixista da banda Alice in Chains, poderia muito bem estampar o pôster de divulgação do documentário. O filme humaniza a figura temida de Lemmy a partir dos de sua rotina detalhada e dos depoimentos emocionados de estrelas do rock que destacam as qualidades do saudoso Lemmy, o Ás de Espadas. Entre as figuras estão: Ozzy Osbourne, Alice Cooper, Mick Jones (The Clash), Slash, Joan Jett, Peter Hook (New Order), Jarvis Cocker (Pulp), Dave Grohl, além de quase todos os integrantes do Metallica, Anthrax e Mötley Crüe, o ator Billy Bob Thornton e o lutador do WWE Triple H (o tema de entrada dele é uma canção do Motorhead). O longa traz momentos cativantes, nos aposentos de Lemmy, no meio da vasta coleção de artigos da Segunda Guerra Mundial, o entrevistador perguntou qual era o seu item mais precioso – em referência a coleção vasta do músico, sem titubear o líder do Motorhead aponta para o lado e responde: “Meu filho” – que não havia aparecido na filmagem até então.

Por falar em Ozzy, ele e Lemmy eram próximos. Inclusive, O Ás de Espadas ajudou em algumas composições do álbum “No More Tears” (1991) de Ozzy Osbourne.

Zakk Wylde, guitarrista do Madman comentou em uma entrevista para um podcast sobre o processo criativo do álbum. O guitarrista se esqueceu de “I Don’t Want to Change the World”, mas disse que Kilmister só precisava passar no famoso Rainbow Bar & Grill, em Los Angeles, para finalizar o trabalho de forma impecável.
“Ele fez as letras de ‘Mama I’m Coming Home’, ‘Desire’, ‘Hellraiser’… deve ter outras para as quais ele escreveu a letra. Nós tínhamos as músicas por aí, Oz cantava em alguma coisa, ia até Lemmy e pedia ‘Lem, você pode colocar alguma letra nessa coisa?’ Lemmy sempre dizia ‘sim, me dê mais ou menos uma hora’. Ele provavelmente ia até o Rainbow, tomava uns dois drinks e ‘aqui está, pronto, finalizado’.”

Zakk Wylde explicou que o líder do Motörhead não estava com a banda do Ozzy em estúdio, porém recebia gravações das músicas ainda não terminadas, com Ozzy cantando as linhas vocais. Daí, entrava um método de composição parecido ao do Black Sabbath.
“Oz dava um guia vocal, e então Lemmy escrevia as letras. Então você tinha o passo a passo das sílabas de Ozzy e Lemmy escrevia, assim como Geezer (Butler, baixista) fazia no passado com o Sabbath.”
Lemmy relembrou a parceria em sua autobiografia, “White Line Fever” (2002). O líder do Motörhead classificou sua participação em “No More Tears” como um dos mais fáceis de sua vida:
“Esse foi um dos trabalhos mais fáceis que já tive. Sharon (Osbourne, esposa e empresária de Ozzy) me ligou e disse ‘vou te dar X quantidade de dinheiro para compor algumas músicas para Ozzy’ e eu disse ‘tudo bem, você tem uma caneta?’ Eu escrevi seis ou sete sequências de palavras e ele acabou usando quatro delas… ganhei mais dinheiro com a composição dessas quatro músicas do que em quinze anos de Motörhead. Absurdo, não é?!”
O Príncipe das Trevas retribuiu a ajuda ao participar com Slash da música “I Ain’t No Nice Guy”, no álbum “March ör Die” (1992) do Motörhead. Você pode ver esse clipe aqui.


O disco traz a versão de Lemmy e sua banda para “Hellraiser” – que foi usada para o filme homônimo. A parceria da dupla completou 30 anos, recentemente lançaram uma edição da música que traz Ozzy e Lemmy num clipe doideira. Confira aqui essa animação pedrada, minha joia.


Lemmy tem uma participação bacana no filme OS CABEÇA DE VENTO, que mostra a trajetória de uma banda fictícia “Os Cavaleiros Solitários”, formada por Chazz (Brendan Fraser), Rex (Steve Buscemi) e Pip (Adam Sandler). Na trilha o destaque é a performance do Motörhead, tocando a música “Born To Raise Hell” com participação especial do rapper e vocalista do Body Count, Ice-T e Whitfield Crane, vocalista da banda Ugly Kid Joe, o clip que rolou bastante na MTV. O filme Os Cabeças-de-Vento foi responsável pela icônica frase “Lemmy é Deus”, entoada por fãs do Motörhead até os dias de hoje. Para entender o contexto, clica aqui para ver esse trecho.

Lemmy ficou famoso por declarações na lata. Seguem algumas frases:
1. “Aparentemente as pessoas não gostam da verdade, mas eu gosto, eu gosto dela porque incomoda muita gente”
2. “As melhores coisas são as que acontecem por acaso”
3. “A morte é inevitável, não é? E você fica mais propenso a ela na minha idade. Não me preocupo com isso. Estou pronto pra morrer. Quando eu morrer, quero ir fazendo o que eu faço de melhor. Se eu morrer amanhã, não posso reclamar. Minha vida foi boa”
4. “A única coisa interessante sobre religião é a quantidade de pessoas que ela tem matado”
5. “Abandone o ‘certo ou errado’. Decida por si mesmo”
6. "Nasça para perder. Viva para vencer."
7. "Seu lar está aqui (na sua cabeça, na sua mente). Aonde você vive é apenas uma preferência geográfica."
8. “Se você não fizer nada que não seja bom pra você, sua vida será muito sem graça. O que você vai fazer? Tudo o que é agradável na vida é perigoso”
9. “Foda-se! Não fale mal dos mortos? Merda! As pessoas não se tornam melhores quando elas estão mortas, você acabou de falar delas como se fossem, mas não é verdade! As pessoas ainda são idiotas, são apenas idiotas mortas!”
10. “’Viva e deixe viver’ é a pedra fundamental da minha vida. Eu sou essencialmente um anarquista, não dá pra se confiar nas pessoas, sabia? Se você desse pra todos no mundo a mesma quantidade de dinheiro amanhã, em duas semanas alguém em algum lugar estaria com a maior parte desse dinheiro”
Lemmy faleceu em 25/12/2015, aos 70 anos, teve um estilo de vida não muito saudável: fumava dois maços de cigarro por dia, além de meio litro de Jack Daniels; depois ele mudou para vodca com suco de laranja e um maço por semana. Dois dias após seu aniversário, Lemmy queixava-se de dores no peito, levaram-no a um pronto-socorro, acabou recebendo alta no dia seguinte. Os médicos não constataram problemas cardíacos. Todd Singerman, empresário da banda, e sua equipe decidiram que o músico precisava passar por uma ressonância, pois a fala de Kilmister estava comprometida. Havia suspeita de um derrame.
“Por que é que ele não está falando muito? Ele estava murmurando muito”, diz Singerman. “Nós os levamos para fazer um raio X e eles disseram, ‘ah, meu deus, há manchas por todo o cérebro e pescoço dele'. No sábado, dia 26, o médico foi até a casa de Lemmy, munido com os resultados e disse a todos que ele tinha seis meses de vida.”
Era câncer, e Lemmy reagiu com calma. “Ele aceitou melhor do que todos nós. A única coisa que ele dissera foi, 'Ah, apenas dois meses, né? ' O médico disse, 'Sim, Lem. Eu não quero te enrolar. É grave, e não há nada que ninguém possa fazer. Eu estaria mentindo se lhe dissesse que há uma chance. ''
Singerman diz que quis manter o diagnóstico em sigilo, anunciar somente que Lemmy estava muito doente, que precisava de privacidade. “Lemmy disse, 'Não, não. Vá em frente e faça um comunicado aberto. Eu quero que as pessoas saibam que era câncer. Que é péssimo e que elas deveriam saber.’ Era assim que ele se sentia.”
Um médico visitou o músico no começo do dia da segunda-feira, 28 de dezembro. Ozzy ficou de vir no mesmo dia ou no dia seguinte. Lemmy passou horas no vídeo game, com o dono do Rainbow, Mikael Maglieri, do lado. Lemmy então cochilou e nunca mais acordou. Essa máquina de vídeo game que Lemmy amava jogar foi trazida do Rainbow. “Mikael me ligou para dizer, 'meu deus, ele acaba de morrer na minha frente'', conta Singerman.

Lemmy Kilmister preparou um presente pra lá de inusitado para seus amigos após sua morte. Pessoas próximas ao músico confirmaram que receberam uma bala de revólver com as cinzas de Lemmy e seu nome gravado. Umas até usaram misturada para tatuagem.

E o corpo se vai, mas a obra permanece eterna. Valeu, Ás de Espadas, por sua contribuição para gente.

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