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Ofensa ao vernáculo

Foto do escritor: Pedim GuimarãesPedim Guimarães

Atualizado: 15 de jan. de 2023


Alcebíades recebeu educação de ponta. A escolha do nome já demonstra a pompa. Nome de famoso político de Atenas, segundo a Wikipedia, do final da Guerra do Peloponeso. Os pais dele mantinham um hobby de leitura de obras clássicas, tudo o que fosse de Grécia e Roma era devorado pelo casal, que não economizava nos termos em latim durante conversas domésticas informais. Durante a campanha presidencial era comum ele abordar amigos e perguntar assim:

- E quem será eleito, Collor? Brizolla? Alea jacta est – diz-se que essa frase em latim foi proferida por Júlio César, “ao tomar a decisão de cruzar com suas legiões o rio Rubicão, que delimitava a divisa entre a Gália Cisalpina (Gália ao sul dos Alpes, que atualmente corresponde ao território do norte da península Itálica) e o território da Itália.” Obrigado, Wikipedia. No mesmo verbete achei que César se apropriou da frase de Menandro, escritor grego de comédias predileto do romano; a frase aparece em algumas obras dele.

A educação do jovem Alcebíades foi muito vasta. Como ele não precisaria trabalhar para o resto da vida devido a heranças de seus antepassados, multiplicadas pelo pai com a compra de precatórios, numa época em que isso era considerado um bom investimento. O casal Soares e Violeta não possuía qualquer preconceito, exceto com falta de estudo, como, por exemplo, ofensa às normas gramaticais, pronunciar alguma palavra de forma equivocado, achar que a Terra é plana, tudo isso ofende a tranquilidade do pacífico casal.

- Boa tarde, senhora, gostaria de EXPEMENTAR essa torrada? – ofereceu a funcionária da padaria com um sorriso no rosto.

- Experimentar? Não, obrigada, querida. – Violeta responde com desdém, pois sabiamente que a jovem teve acesso à educação. Isso ofendia os ouvidos acostumados com o respeito ao vernáculo, afinal entendiam que a língua é patrimônio de um povo, deveria, portanto, ser respeitada, sobretudo dentro de casa. Alcebíades e seus irmãos, Carlos Magno e Otávio Augusto recebiam duras penas por falhas em suas falas, imaginem o que acontecia com notas baixas. Não, eles não batiam, acreditam que violência gera mais violência, todavia castigavam de forma mais severa os herdeiros.


Alcebíades começou a estudar administração de empresas numa faculdade pública, outra imposição dos pais, que argumentam que a melhor ciência se concentra nas universidades públicas. Mesmo o curso escolhido pelo jovem não possuir muita tradição científica, seus pais foram irredutíveis nisso. Como ele queria vivenciar a experiência corporativa, solicitou um estágio não remunerado ao pai em um dos escritórios. Iria atuar em um ateliê que comercializa obras de arte.


Os dias corriam bem, até que um fato inusitado ocorreu. Bruna, uma estagiária, entrou na sala de Alcebíades sem bater:

- Alcebíades, tu viu que quebraram o VRIDO da sala?

- Oi? – a resposta saiu trêmula, uma súbita taquicardia havia começado.

- VRIDO. Ali, parece que arremessaram uma PREDA.

- Quê? – os batimentos cardíacos intensificaram, sua boca ficou seca. Claramente percebeu que seu sangue estava sendo bombeado para o pênis.

- Nam. Tu entendeu não? PREDA no VRIDO! POCOU tudo!

- Com licença. – correu ao banheiro. Lá constatou que nunca havia tido uma ereção tão firme como essa. Até começou a pensar que o membro estava maior do que quando saiu com a filha do Renato Gaúcho, Carolina Portaluppi. Vocês imaginaram o Alcebíades feio? Preconceito com pessoas de nomes clássico. Alcebíades possuía muitos seguidores nas redes sociais, acostumado a sair com belas modelos, influenciadoras digitais e até com cantoras famosas, saiu em um site de fofocas que teve um caso com a Anitta, não houve comprovação.


De noite marcou com uma “amiga” mais especial. Queria testar uma hipótese sobre o momento da tarde. Acreditava que isso ocorreu devido aos erros de pronúncia ditos por sua colega de empresa, que nunca havia lhe despertado o desejo até então. O plano da noite era propor que a convidada proferisse os mesmos erros cometidos por Bruna.

- Letícia, vamos lá, você vai falar assim “jogaram PREDA no VRIDO! POCOU tudo!”, depois você fala que “a gente VEVE assustado”. – Passou as instruções com muita paciência à moça.

- Vamos. – E foram ao ninho de amor. Combinaram o momento em que ela falaria essa combinação que pode estourar os tímpanos de alguém.

- Jogaram PREDA no VRIDO! POCOU tudo! – bradou orgulhosamente Letícia usando toda sua experiência teatral.

- De novo, vai.

- Jogaram PREDA no VRIDO! POCOU tudo! AAAAAAAAAAAAAAAAI. – Pelo visto havia descoberto um afrodisíaco natural. Enquanto uns optam por açaí, abacaxi e demais frutas cítricas, castanhas, ou até remédios; nosso protagonista se excita com a ofensa ao vernáculo, sim, com quem fala errado.


O tempo passou, muitas palavras foram pronunciadas de forma errônea propositalmente, o bastante para que os cadáveres de vários gramáticos se mexam em suas tumbas. Alcebíades tinha um apreço por VEVE. Seu erro preferido constituía na base de sua força motriz sexual. Isso perdurou por anos, até que o efeito diminuiu. A ponto de apenas garantir o ato sexual sem maiores glórias. Ele variou, até contratou mulheres do ramo do sexo comercial para fins científicos, tudo pela ciência! Concluiu que a excitação agora deveria ocorrer apenas com mulheres que fossem de fato sem instrução ou que possuíssem algum problema fonoaudiológico.


Alcebíades acreditava que o acaso não existe, que uma estratégia aleatória renderia bons frutos. Pegou seu carro, saiu pela cidade. Abordou várias mulheres. Aí percebeu que a segurança pública é um grande problema. Quando era jovem, dava muitas caronas. Agora percebia o pavor na face das transeuntes. Ele não queria forçar a sair, apenas realizar algumas perguntas. Ele percebe uma moça fora dos padrões de beleza dele – cujos detalhes não darei, caro (a) leitor (a), imagine uma mulher cuja estética não lhe agrade, pronto, eis o personagem.

- Boa noite, moça, gostaria de saber onde tem um caixa eletrônico por aqui, você sabe? – usou voz suave nosso herói.

- Moço, vai ali na frente e DROBA na primeira a direita

- Oi? – sentia o fogo da paixão consumir-lhe. Alcebíades sentia o coração acelerar.

- Sim. DROBA na primeira a direita. Aí tem até uma farmácia cheia de VRIDO na fachada, sabe?

- Oh, sei... Teve um dia que jogaram algo nela, né? – sentia pulsações penianas.

- Sim. PREDA, no meio do VRIDO.

- Eita!

- Foi. Uns meninos. Eles VEVE assustando o povo aqui.

- Como é? – perguntou ofegante.

- é. VEVE assustando o povo aqui com PREDA, ASVEIS com caco de VRIDO. A coisa tá bem MENAS insegura agora.

- Você quer uma carona? – a voz exalava libido.

- Moço, aceito. – entrou no carro, afivelou o cinto.

- Onde você mora?

-TRANQUEDO Neves. – Alcebíades teve ali, com as mãos no volante, o orgasmo mais intenso de sua vida.

1 comentário


Isys Landim
Isys Landim
18 de abr. de 2021

Kakakkakakka

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