
Considerei não escrever este texto, mas a frequência com que o fato que vou relatar ocorreu me chamou a atenção: três vezes. Há um adágio no ocultismo que diz que o acaso não existe, e o número três tem um simbolismo especial (vide a Santíssima Trindade; o triângulo; passado, presente e futuro; princípio, meio e fim; quando um jogador fazia três gols na rodada semanal, ele podia pedir música no Fantástico...).
Eu e ela não tivemos um namoro. Conversamos por um tempo, algo em torno de um ano, e marcamos alguns encontros. As ocasiões foram horríveis, além das conversas desagradáveis que frequentemente minavam minha autoestima com aquelas típicas brincadeiras que parecem leves, mas machucam. E por que me submeti a isso? Talvez por mera carência afetiva. Alguns leitores podem se identificar; afinal, quem nunca se envolveu dessa forma, não é? É oportuno lembrar da fábula do "Urso e a Panela" (se interessar é fácil achar pelo Google).
Eu a vi duas vezes em um local público e a terceira, em um supermercado. Não sei se ela me viu, afinal mudei muito ao longo dos anos. Não sei se foi para pior ou melhor; em uns pontos piorei, em outros posso estar melhor. De toda forma, logo apliquei técnicas de invisibilidade, o bom e velho sumiço, também conhecido por camuflagem ambiental. Possuo uma habilidade de reconhecer pessoas mesmo sem vê-las, o que é excelente para despistá-las logo. Por mais que pareça como fuga do tema desse texto, compartilho que desisti de cumprimentar boa parte das pessoas antes que elas falem comigo. Se a pessoa não falar comigo, ou não lembra de mim, ou devo ter causado más experiências a ela, ou ela soube que sou alguém terrível. Qualquer dessas opções me basta. Bom, e quando a pessoa me causou transtorno? Nem hesito em apenas responder ao cumprimento e seguir meu rumo, ou fingir que tenho rumo e andar como se tivesse um caminho.
Andei pelo supermercado vigilante como se estivesse numa invasão ao território inimigo para não tomar um tiro de um sniper, a fim de não ser alvejado pelo chamado inconveniente do meu nome, cuja reverberação no ambiente me deixaria nauseabundo.
Consegui concluir as compras com sucesso, ou seja, não fui interpelado por ela, que talvez tenha me visto, mas não falou. Evitação bilateral. Enquanto passava os itens pela esteira do caixa do supermercado, lembrei da imagem dela, ela não havia mudado muito após esses anos todos, todavia eu percebi o quão feia ela é. Não me refiro aos detalhes físicos, mas à alma. “O essencial é invisível aos olhos”. Ela era uma mulher desagradável, briguenta, arrogante e fútil. Minha divagação foi interrompida ao ver um pacote de Bala Fini, algo melhor para se pensar do que nessa cidadã. A propósito, qual Fini você gosta mais?
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