Pessoas tóxicas e você
- Pedim Guimarães
- 26 de mar. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de dez. de 2022

Se você usa alguma rede social moderadamente deve ter lido esse termo em algum diálogo.
-Vocês souberam do ex-namorado da Fernanda?
-Não, que foi?
-Foi preso, parece que Maria da Penha
-Eu nunca fui com a cara dele. Fernanda me disse que ele é uma pessoa tóxica
Busquei aqui no dicionário um conceito de tóxico, eis o que achei:
1. Adjetivo substantivo masculino que ou o que produz efeitos nocivos no organismo.
2. Que ou o que contém veneno.

Uma pessoa tóxica, portanto, seria alguém que tem algo que pode prejudicar o bem-estar de outra pessoa. Geralmente, e com razão, associa-se a alguns perfis como: arrogantes, quem se vitimiza muito, controladores, invejosos, mentirosos, negativos, gananciosos, julgadores, fofoqueiros e sem caráter. Sim, uma lista, até extensa né? Digamos até meio óbvia, achei nesse link. Para exemplificar, há uns anos houve um caso polêmico em Fortaleza em que o marido atirou na cabeça da mulher, por obra de algo maior, ela não faleceu, houve várias audiências, numa delas, alguns membros da família do infrator declararam que sentiam saudades da vítima, não se espantem, falaram que ela deveria voltar a visitá-los.
Nesse caso, a família do agressor, talvez pense que a moça o deixava louco a ponto de cometer tal atrocidade. A vítima, então, seria a pessoa tóxica na perspectiva deles. Pode ser, não é? Às vezes é atribuído um título desmerecido a indivíduo que não faz jus a tal. Já me deparei com situações em que alguém recebeu muita ajuda, entretanto faltou algo para completar o rol de pedidos, logo o necessitado tacha quem se propôs a auxiliar de “tóxico”, ou alguma outra pecha infundada. Também vivenciei ocasiões em que uma brincadeira constituiu motivo de ruptura de cordialidade, posso afirmar com segurança que o ato do comediante ocasional não apresentou qualquer malícia ou ofensa a credor, orientação sexual ou ideologia política. O aspirante a palhaço passou a configurar no rol de pessoas tóxicas do ofendido, bem como de amigos dele.
O que quero dizer sobre pessoas tóxicas é que constitui em algo muito relativo. Quem sabe você, sim, isso mesmo, que está lendo, pode ser uma pessoa tóxica. Ao escrever esse texto, li alguns outros, achei esse aqui, bom você ler. Em especialmente se usar a expressão pessoa tóxica. Quando um casal rompe, se não for uma separação amigável, ambos tecerão comentários terríveis acerca do outro, em especial se não contar muito tempo de afastamento. O passar dos dias tende a curar algumas feridas, a cicatriz pode ficar como lembrança, contudo não sangrará mais.

A pessoa caracterizada como tóxica pode estar passando por alguma fase turbulenta na vida, quiçá com algum distúrbio, ou apenas carente de atenção. Possibilidades, né? Eu não descarto que há seres de péssima índole. Onde há luz existe trevas, essa declaração se alinha com um princípio do hermetismo (conjunto de doutrinas simultaneamente místicas, astrológicas, alquímicas, mágicas e, tangencialmente, filosóficas, atribuídas pelos seus autores da antiguidade greco-latina à inspiração do deus Hermes Trismegisto, identificado ao deus egípcio Tot, surgiu nos primeiros séculos da era cristã, influenciou teólogos, alquimistas e filósofos na Idade Média, Renascimento e Iluminismo) chamado princípio da Polaridade, no qual se diz:
“Tudo é duplo, tudo tem dois polos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados”. O Caibalion
Antes de classificar alguém como tóxico, veja se não lhe falta empatia ou paciência com outro. Especialmente se você se intitula religioso. É bem fácil estudar tudo que é doutrina espiritual, palestrar sobre conhecimentos do ocultismo, ir para celebrações como missa, culto e afins; a dificuldade reside na prática, ah, caso você seja cristão, eis algo para reflexão:
“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos.” João 13:34-35
Ah, não me entendam mal, não digo para insistirem em toda relação, absolutamente, ou uma ode à tolerância total, sem restrições. Cito novamente o caso da mulher que sofreu uma tentativa de homicídio do marido da época, ela fez certo em extinguir o contato com a família, sobretudo com ele. Também não é ter empatia por relações abusivas, jamais. O que comento é sobre a expressão ter se tornado uma forma de aplicar um maniqueísmo nas pessoas. Além do bem e do mal devemos preservar o bom senso, sempre. Um clássico da literatura nacional que aborda esse tema do ponto de vista das pessoas é “A Luneta Mágica” de Joaquim Manuel de Macedo. Nesta obra, Simplício, míope, deseja com todas forças ter a visão perfeita, um conhecido dele o leva a um mago, que confeccionou lente em que o protagonista poderia enxergar todo o mal da pessoa se olhasse para ela por três minutos, visualizar o mal afastou Simplício do contato com outras pessoas. O feiticeiro elabora uma outra lente, nesta o que se vê após três minutos é a bondade, por isso o personagem se torna alvo fácil de trapaceiros e inescrupulosos. Bom, ele recebe uma terceira luneta, aí fica para vocês pesquisarem o final ou lerem o livro, que é sensacional.
A dica de outro que lhes dou é “não seja um babaca”. Não apenas para evitar ser enquadrado como tóxico, mas para sua própria evolução como ser social, afinal não somos ilhas, muitos gostariam, como eu, no entanto vivemos em grupos, seja de trabalho, família, amigos, vizinhos. Se você assistiu ao filme Náufrago do Tom Hanks deve lembrar do Wilson. O protagonista sentiu tanta falta de gente que designou uma bola para ter contato com algo. O expectador pensa “oh o doido”, [alerta de spoiler] quando a bola se perde, quem está vendo pode ficar com a visão turva, por entender a ligação entre os dois. Talvez a bola merecesse um Óscar de melhor ator coadjuvante, ou atriz, sei lá.

Se perceber que alguém está te fazendo mal, tudo bem, afaste-se, não precisa forçar a barra. O que digo é para pensar depois sobre sua ação de cortar laço com aquela pessoa. Esse desligamento me lembra um episódio de Black Mirror, série maravilhosa por sinal, em que a tecnologia permite que os seres humanos bloqueiem os outros, sim, a pessoa se torna apenas estática móvel e não pode lhe atingir por restrições devido a dispositivos implantados no corpo de todo mundo. Loucura? Não, estamos cada vez mais perto disso, só que fica para um outro texto.
Abraço forte a vocês,
Paz
Excelente ponto de vista!