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Retrospectiva 2023

Foto do escritor: Pedim GuimarãesPedim Guimarães



Na última sessão de terapia do ano, a psicóloga, como todo ano, propôs uma prática de retrospectiva. Olhando para como foi 2023, percebi que foi um ano desgastante, introspectivo e melancólico, ou seja, outra forma para dizer “é... não foi dessa vez”. Um ano em que busquei me isolar, talvez em busca de mim mesmo, tal como ensina a frase escrita no oráculo de Apolo em Delfos na Grécia Antiga, “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses” – a frase não é de Sócrates, ok?


Procurei o isolamento, então busquei mergulhar em mim mesmo, descobrir o que jaz em meu âmago, mas no processo acabei me afogando nas águas da introspecção. Nesse mergulho talvez tenha até me perdido de mim, afinal não consigo responder a indagação “quem sou eu?”. Tem momentos que consigo elaborar alguma frase, em outros, registro meu silêncio como resposta, segundo um grande pensador francês “no silêncio são ditas grandes verdades”, pena que não sei essa informação inaudível. A fim de encontrar essa resposta seguirei na busca, espero um dia ser digno de descobrir.


Nesse processo de imersão em mim, concluí algumas constatações cruas. Umas delas é que estamos sozinhos na jornada neste mundo. Vez por outra podemos receber uma ajuda, mas no geral não temos muito apoio. Ah, válido para pessoas próximas. Ninguém se importa com você, ninguém se preocupa com você, exceto quando precisam de você, em regra, cada um se importa apenas com o seu umbigo, dane-se o outro. Uma prova cabal disso está no trânsito, em que poucos praticam a cordialidade, no geral dirigem como se seu tempo fosse mais importante do que o de outrem. Confesso que quando vejo essas faltas de empatia nas ruas, a minha descrença na humanidade se acentua.


Outra observação proporcionada por esse ano misantropo é que às vezes precisamos ser babacas. Ao longo dos anos frequentei algumas locais de cunho espiritual e percebo que geralmente os adeptos dessas instituições evitam atitudes mais austeras, não raro se tolera o que se deveria ser execrado. Não me venha com aquele pensamento distorcido de dar a outra face ou da caridade, afinal haverá situações em que o ato de amor será uma porrada, não necessariamente física, às vezes metafórica, na maioria das vezes metafórica mesmo. Infelizmente há desvirtuações de correntes religiosas que configuram pusilanimidade. Por falar em movimentos espiritualistas, há um consenso na relatividade de tempo e espaço, esse pensamento tosco que expus acima me ocorreu após a minha psicóloga me perguntar como fora meu ano, falei alguns fragmentos do que escrevi acima. Daí tivemos um diálogo mais ou menos assim:

- Foi um ano meio triste pra você, né?

- É, acho que sim.

- Mas não teve muita coisa boa?

- Olha, algo grande não.

- Então teve, né?

- É – comentei algumas conquistas bestas, tanto que após citá-las frisei que era algo sem importância.

- Tem uma frase que gostaria de dizer pra você: “As pequenas coisas? Os pequenos momentos? Eles não são pequenos!” Cada bom momento deve ser vivenciado, celebrado, não diminua suas conquistas, o que é pequeno para você, pode ser grande para outro. Não menospreze o que você batalhou para ter. – algo assim que ela disse.

É, talvez não tenha sido tão ruim assim.

 
 
 

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